Envelhecer é um privilégio, mas também um desafio que exige atenção integral às mudanças que ocorrem no corpo e na mente. Entre essas transformações, as alterações hormonais têm um papel fundamental e, muitas vezes, subestimado na saúde mental da pessoa idosa. Como médica voltada à saúde emocional na maturidade, percebo diariamente como oscilações hormonais estão diretamente ligadas ao bem-estar, humor e qualidade de vida dos meus pacientes.
Neste artigo, vamos explorar como essas mudanças hormonais impactam o funcionamento mental na terceira idade, quais os sintomas mais comuns, e o que podemos fazer para minimizar os efeitos negativos e promover uma velhice mais equilibrada e feliz.
Entendendo os hormônios na terceira idade
Hormônios são substâncias produzidas pelas glândulas do nosso corpo que regulam desde o metabolismo até o humor. Com o avanço da idade, é natural que ocorra uma redução na produção de alguns deles, como:
- Estrogênio e progesterona (principalmente nas mulheres)
- Testosterona (nos homens)
- Cortisol
- Hormônio do crescimento (GH)
- Melatonina
- Serotonina e dopamina (neurotransmissores que atuam como hormônios cerebrais)
Essa queda hormonal pode interferir significativamente no estado emocional, na memória, na qualidade do sono, no apetite e na capacidade de lidar com o estresse.
Sinais de alerta: quando as emoções estão conectadas aos hormônios
Muitos sintomas emocionais comuns na velhice podem estar ligados a desequilíbrios hormonais. Entre eles:
- Oscilações de humor ou irritabilidade sem motivo aparente
- Tristeza persistente ou desânimo
- Insônia ou sonolência excessiva
- Ansiedade ou crises de pânico
- Apatia e falta de energia
- Perda de interesse por atividades antes prazerosas
- Comprometimento cognitivo leve
Infelizmente, esses sintomas muitas vezes são atribuídos apenas ao envelhecimento em si ou confundidos com depressão, o que pode atrasar o diagnóstico correto e o tratamento adequado.
O papel dos hormônios sexuais
Nas mulheres, a menopausa é um marco importante que pode desencadear sítios de vulnerabilidade emocional. A queda de estrogênio está associada a alterações no sono, no humor, na libido e na sensação geral de bem-estar. O estrogênio também tem função neuroprotetora, e sua diminuição pode aumentar o risco de declínio cognitivo e doenças neurodegenerativas.
Nos homens, a redução progressiva de testosterona, conhecida como andropausa, também pode afetar diretamente o humor, causar fadiga, irritabilidade e queda de desempenho cognitivo. Muitos homens não percebem essa relação e acabam sofrendo em silêncio.
Interação com outras condições de saúde
O impacto hormonal também se agrava quando somado a outras condições comuns na terceira idade, como diabetes, hipertensão, hipotireoidismo e uso prolongado de medicamentos. Essas comorbidades influenciam o metabolismo e o funcionamento hormonal, criando um ciclo de retroalimentação negativo que precisa ser cuidadosamente monitorado.
O que fazer: abordagem integrada e humanizada
Como lidar com esse desafio de forma eficiente e acolhedora? Aqui estão algumas orientações que utilizo na prática:
1. Avaliação hormonal regular
Pedir exames específicos para avaliar os níveis hormonais é essencial para identificar desequilíbrios e evitar diagnósticos equivocados de transtornos emocionais.
2. Acompanhamento multiprofissional
A saúde do idoso deve ser cuidada por uma equipe integrada: médico, psicólogo, nutricionista e fisioterapeuta podem contribuir de forma complementar.
3. Alimentação equilibrada
Certos alimentos ajudam na produção de serotonina e dopamina, como grãos integrais, banana, cacau, oleaginosas e vegetais verdes escuros.
4. Atividade física regular
Exercícios ajudam a regular os hormônios, reduzem o estresse e melhoram a autoestima.
5. Psicoterapia e escuta ativa
Acompanhamento psicoterapêutico é essencial para lidar com as emoções, construir novas perspectivas e enfrentar com dignidade as mudanças da vida.
6. Tratamento hormonal individualizado
Em alguns casos, a reposição hormonal pode ser indicada, desde que haja indicação médica e acompanhamento rigoroso.
Considerações finais
A saúde mental do idoso não pode ser separada de seu contexto biológico e hormonal. Ao compreendermos o impacto das mudanças hormonais, abrimos caminho para diagnósticos mais precisos e cuidados mais efetivos.
Envelhecer com qualidade significa reconhecer o que muda no corpo e na mente, e acolher essas mudanças com informação, sensibilidade e apoio. Estou aqui para lembrar que é possível viver bem em todas as fases da vida.
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