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O Sono na Terceira Idade: Desafios e Estratégias para uma Noite Restauradora

No dia a dia do meu consultório, uma queixa se destaca pela sua frequência e pelo impacto que causa na vida dos meus pacientes idosos: as dificuldades com o sono. A frase “não consigo dormir direito” ecoa repetidamente, revelando um problema que vai muito além do simples cansaço. Noites mal dormidas afetam profundamente a qualidade de vida, o humor e até mesmo as funções cognitivas nessa fase da vida.

A insônia surge como a protagonista desses relatos. 

Seja a dificuldade em adormecer, os múltiplos despertares noturnos ou o despertar precoce, ela rouba preciosas horas de descanso. As transformações fisiológicas inerentes ao envelhecimento alteram o padrão de sono, tornando-o mais leve e fragmentado. Contudo, essa mudança natural frequentemente se associa a outros fatores complexos. Condições médicas como a dor crônica, problemas cardiovasculares, doenças respiratórias e a necessidade frequente de urinar (nictúria) perturbam o repouso noturno.

A saúde mental também exerce uma influência poderosa sobre o sono. 

A ansiedade, muitas vezes alimentada por preocupações com a saúde, finanças ou a família, pode manter a mente em constante atividade quando o corpo clama por descanso. A depressão, por sua vez, frequentemente se manifesta através de alterações no padrão de sono, seja a insônia persistente ou o sono excessivo (hipersonia).

É crucial desmistificar a ideia de que noites mal dormidas são uma consequência inevitável do envelhecimento. As repercussões de um sono inadequado são vastas e significativas. Observo em meus pacientes uma piora na capacidade de concentração e na memória, um aumento da irritabilidade e da instabilidade emocional, e, de forma preocupante, um risco elevado de quedas devido à sonolência diurna e à dificuldade de equilíbrio. A longo prazo, a privação crônica do sono pode agravar condições médicas preexistentes e até mesmo predispor ao desenvolvimento de novas comorbidades.

Apesar da alta prevalência dos transtornos do sono, muitos idosos relutam em compartilhar suas dificuldades, talvez por acreditarem que seja uma parte intrínseca do envelhecer ou por receio de uma medicalização excessiva. Por essa razão, adoto uma postura ativa na consulta geriátrica, buscando informações sobre a qualidade do sono e investigando as possíveis causas subjacentes com sensibilidade e atenção.

O tratamento para os distúrbios do sono na terceira idade exige uma abordagem individualizada e que envolva diversas estratégias. A higiene do sono constitui um alicerce fundamental, com orientações claras sobre a importância de horários regulares para dormir e acordar, a criação de um ambiente tranquilo e confortável para o descanso, a restrição do uso de dispositivos eletrônicos antes de deitar e a moderação no consumo de substâncias estimulantes como a cafeína e o álcool.

A terapia cognitivo-comportamental para insônia (TCC-I) tem se mostrado uma ferramenta poderosa, auxiliando os pacientes a identificar e modificar pensamentos e comportamentos disfuncionais que perpetuam os problemas de sono.

No que concerne à farmacoterapia, a prudência é essencial, especialmente no uso de benzodiazepínicos em idosos, devido ao risco aumentado de efeitos colaterais como sedação excessiva, confusão mental, quedas e o desenvolvimento de dependência. Em casos específicos e criteriosamente avaliados, podemos considerar o uso de medicamentos hipnóticos não benzodiazepínicos ou antidepressivos com propriedades sedativas, sempre com doses ajustadas e um acompanhamento médico rigoroso. A melatonina também pode ser uma aliada em algumas situações, particularmente nos distúrbios do ritmo circadiano.

Acredito firmemente que, ao dedicarmos uma atenção especial aos transtornos do sono em nossos pacientes idosos, podemos promover uma melhora substancial em sua qualidade de vida, em sua saúde física e mental, e contribuir para um envelhecimento mais saudável, ativo e com mais bem-estar. Este é um aspecto crucial da geriatria que merece nosso constante aprendizado e aprimoramento em nossa prática clínica.

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