Olá, eu sou a Dra. Salma. Hoje quero conversar sobre algo que costuma chegar de forma silenciosa, mas que impacta profundamente a vida emocional na terceira idade: o luto.
Com o passar dos anos, acumulamos experiências, memórias e afetos. Mas também acumulamos despedidas. Perder um cônjuge, um amigo querido, um irmão ou até mesmo a autonomia que se tinha é um processo doloroso — e, muitas vezes, solitário.
O luto tem muitas faces
Quando falamos em luto, logo pensamos na perda por morte. E sim, essa é uma das formas mais profundas e marcantes. Mas na terceira idade, o luto pode ter outras nuances:
- O luto pela perda de um parceiro de décadas
- O luto pelos amigos que já se foram
- O luto pela perda da saúde, da mobilidade ou da independência
- O luto por não ser mais tão presente na vida dos filhos
- E até o luto por uma identidade que se desfaz com a aposentadoria
Cada uma dessas perdas tem seu próprio tempo, dor e necessidade de acolhimento.
O impacto na saúde mental dos idosos
É comum que o luto, especialmente na velhice, seja subestimado. Comentários como “ele já viveu bastante” ou “ela está cercada pela família” invalidam uma dor legítima. E esse silêncio pode abrir espaço para o surgimento de quadros como:
- Depressão tardia
- Isolamento social
- Ansiedade e crises de pânico
- Dificuldades cognitivas agravadas
- Perda de sentido existencial
O luto não vivido ou não reconhecido se transforma em sofrimento crônico. Por isso, precisamos falar sobre ele — com empatia, escuta e sem pressa.
Luto não tem prazo de validade
Uma das perguntas mais comuns que escuto é: “Dra, quanto tempo leva para passar?”. E minha resposta é: o luto não tem prazo, tem processo.
Cada pessoa vive o luto à sua maneira. Algumas passam por ele em ondas — dias de paz e dias de dor. Outras sentem a ausência como uma presença constante. Algumas choram todos os dias; outras se fecham em silêncio.
Não existe jeito certo ou errado de sentir. Mas existe sim a necessidade de apoio.
Estratégias de enfrentamento com afeto
Cuidar da saúde mental na terceira idade passa também por cuidar da forma como lidamos com as perdas. Aqui vão algumas sugestões que compartilho no consultório e também levo para a vida:
- Permita-se sentir. Chorar, ficar triste, sentir raiva — tudo isso faz parte do luto.
- Fale sobre a pessoa que se foi. Contar histórias, relembrar momentos, manter viva a memória ajuda a elaborar a ausência.
- Busque conexões. Amizades novas, grupos de convívio, projetos comunitários. Relacionar-se é uma forma de renovar a esperança.
- Cuide do corpo para cuidar da mente. Alimentação equilibrada, caminhadas, boa hidratação e sono reparador fazem diferença.
- Considere ajuda profissional. A psicoterapia é um espaço seguro para expressar o que muitas vezes não conseguimos dividir com ninguém.
Quando o luto se transforma em depressão?
Fique atento(a) se você ou alguém próximo estiver:
- Perdendo o interesse por atividades antes prazerosas
- Com alterações intensas no sono e apetite
- Sem energia para tarefas simples do dia a dia
- Com pensamentos negativos persistentes
Nesses casos, é fundamental procurar ajuda médica e psicológica. O sofrimento não precisa ser eterno — e a vida ainda pode surpreender, mesmo depois de grandes perdas.
Um convite ao recomeço
O luto não é o fim da linha. É, muitas vezes, o início de um novo ciclo de sentido. Recomeçar não significa esquecer. Significa honrar quem partiu ao continuar vivendo com amor, mesmo com a dor.
Se você está nesse caminho, saiba que estou aqui — para ouvir, orientar e, acima de tudo, acolher.
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